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[Coluna do Podtrash] Latrina Trash: O cão glutão, o coelho carnívoro, o pombo obeso e a chuva de rãs

Por Douglas Fricke (Exumador)

O diretor Sylvain Chomet é responsável por animações capazes de deixar o camundongo dos Estúdios Walt Disney se roendo de inveja.

Em sua estréia com um longa animado, chegou até a concorrer a Oscar em pé de igualdade com Walt Disney! Como? Com o espetacular “As Bicicletas de Belleville”, de 2003, de estilo visual tão esquisito quanto atraente e que conta com uma das trilhas sonoras mais grudentas da história do cinema! As músicas e as imagens suprem genialmente a ausência de diálogos na hora de contar a história da Senhora Souza, velhinha portuguesa excêntrica que parte numa jornada épica até a cidade de Belleville em busca do seu querido netinho ciclista, um ser atlético/esquelético deformado que foi raptado pela máfia.

Belleville é uma caricatura de Nova Iorque onde a estátua da Liberdade é uma mulher gorda devorando um McGordura qualquer e os habitantes são obesos mórbidos com suas obscenas barrigas balançantes! E os fiéis companheiros na missão da Dona Souza conseguem ser ainda mais estranhos que ela! Bruno, o cão obeso mórbido do neto ciclista se destaca pela disposição em declarar seu ódio contra os trens e por sua glutonice. Já as Trigêmeas de Belleville são o ápice do bizarro nesse filme. A surreal cena de abertura que imita aqueles desenhos politicamente incorretos dos Estados Unidos dos anos 30 as mostra como cantoras famosas que dividiam o palco e o sucesso com caricaturas de Fred Astaire e Josephine Baker, sempre lendária em sua apresentação com a saia de bananas! Várias décadas depois, agora envelhecidas e insanas, a paixão das irmãs pela música perdura, fato fundamental pro desenrolar da trama.

 “As Bicicletas de Belleville” (2003)

Alguns dos momentos mais estranhos do filme envolvem as irmãs malucas. Elas provocam chuvas de rãs (quase como em “Magnólia”!) jogando morteiros no brejo de Belleville. Pra quê? Os pobres batráquios explodidos são degustados de todos os modos possíveis, até como picolés! Mas para além dessa obsessão gastronômica sinistra, as três são velhinhas ceguetas, excêntricas e musicais! Elas se apresentam tocando instrumentos atípicos como um jornal, um aspirador de pó e uma geladeira! Nem o albino Hermeto Paschoal, que como diria Caetano Veloso “já não enxerga mesmo muito bem“, esperava por essa!

As trigêmeas de Belleville se apresentando, para inveja do Hermeto

Sylvain Chomet ainda produziu um curta antes de “As Bicicletas de Belleville” e um longa posterior, todos com temas comuns entre si: pode-se perceber a presença constante de refeições como foco pra trama, ou ainda a nostalgia, os sonhos e a velhice. Sem contar os animais esquisitaços passeando por todos esses desenhos!

“La vieille dame et les pigeons” (1998) mostra o traço estilizado e humor negro característicos na história da velhinha que dá tanta comida pros pombos da praça que eles engordam assustadoramente. O guarda do parque, um coroa esfomeado, resolve se fantasiar de pombo pra receber o tratamento vip da anciã, com resultados sinistros!

“La vieille dame et les pigeons” (1998)

“L’illusionniste” (2010) adapta a história original de Jacques Tati, o Mr. Hulot! É uma animação triste e melancólica sobre a vida de um velhinho mágico em decadência por causa do advento de novas atrações para os jovens como o rock! O animal estranho desse aqui é um coelho carnívoro que sempre tenta morder quem o tira da cartola!

“Slugs: Muerte Viscosa” (1988, direção de Juan Piquer Simón)

Horror, medo e desespero!

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Angelica Hellish

Angélica Hellish é a criadora do projeto. Cinéfila, mãe, ativista pela causa LGBTQIA+ e antifascista.

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