Companheiras e companheiros, fiquem à vontade. Quinzenalmente, estamos aqui no Masmorra Cine, falando de filmes não-estadunidenses de uma forma que cabe no seu tempo e, de quebra, apresentando dicas culturais oriundas dos países das obras destacadas. Venham conosco. Hoje, iremos ao México.
Carvalho de Mendonça
A ESTREITA FAIXA AMARELA (México, 2015)
La delgada línea amarilla – Drama – 1h35min – Celso R. Garcia
A obra em 7 segundos
A sensível e poderosa jornada de cinco homens que, incumbidos de pintar uma estrada, compartilham seus dramas e sonhos, durante quinze dias de isolamento.
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A obra em 40 segundos
Toño (Damián Alcázar) consegue um trabalho para pintar uma faixa amarela numa estrada que liga duas cidades mexicanas, junto com Gabriel (Joaquín Cosío), Atayde (Silverio Palacios), Mario (Gustavo Sánchez Parra) e Pablo (Américo Hollander). Os cinco homens possuem personalidades distintas, mas carregam consigo o peso do passado. Durante os quinze dias em que permanecem isolados, eles compartilham seus dramas e sonhos, em uma jornada de autoconhecimento. Em seu filme de estreia, Celso R. Garcia acerta em cheio na simplicidade do roteiro e na direção de atores.
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A obra em 3 minutos
Depois de onze anos trabalhando como vigia em um ferro velho, Toño (Damián Alcázar) recebe a notícia de que será substituído por um cachorro. Já com a idade avançada, e carregando apenas uma pequena caixa com objetos do passado, ele sai em busca de uma nova ocupação, ressaltando que a procura já faz parte de seu ser. O destino faz seu caminho se cruzar com o de um antigo conhecido, que lhe oferece um bom valor para a realização da pintura de uma faixa central amarela na estrada que liga as cidades mexicanas de San Jacinto e San Carlos. Ao lado de Gabriel (Joaquín Cosío), Atayde (Silverio Palacios), Mario (Gustavo Sánchez Parra) e Pablo (Américo Hollander), Toño parte em uma comovente jornada de autoconhecimento.
A estreita faixa amarela, o primeiro longa-metragem do cineasta Celso R. Garcia, surpreende por transformar um roteiro aparentemente simples em um árido drama sobre relações humanas e o poder de influência destas na evolução interna de cada um. As histórias dos cinco homens são contadas, enquanto eles traçam a linha de duzentos quilômetros, por quinze dias de um afastamento (quase) completo. O filme mescla diálogos bem humorados com passagens que beiram ao melodrama, e se escora no carisma absurdo do elenco para conquistar a empatia do público, sem a qual dificilmente a trama funcionaria.
A faixa amarela, que separa os lados e liga as cidades, une os sentimentos de pessoas completamente distintas, que, entretanto, se assemelham por carregarem nas costas os dramas que as obrigaram a aceitar aquele serviço. A obra é precisa no olhar que empreende sobre os personagens, sem criar juízo de valor ou hierarquizar as agruras, concedendo espaço e tempo para o natural desabafo de todos. Questões de saúde, celeumas familiares, fracassos profissionais, dilemas morais, o maior problema é sempre o nosso problema, e Garcia acerta em não colocar o espectador em posição de superioridade e, sim, como mais um operário, exposto aos percalços da existência.
O cenário seco e de horizonte infinito, ressaltado pela fotografia do filme, é muito familiar ao espectador brasileiro. Aliás, a trama de A estreita faixa amarela poderia ter sido desenvolvida em qualquer outro lugar, haja vista que a estrada é metáfora e a essência do filme está nos personagens. O destino, via condução coercitiva, forçou o encontro e a convivência entre os operários, que, em seus piores momentos, conseguem descobrir um com o outro o poder do recomeçar. O roteiro ainda brinca com a inclusão ao grupo de uma cadelinha, que, assim como nós, também tinha uma importante história de vida, e, naquele momento, vinha para somar, não para substituir.
Neste emocionante road movie, o passado de Toño e o passado de Pablo se cruzam, conduzindo a película ao fim da estrada. E no fim da estrada há uma curva. E, quem sabe, depois da curva, uma grande placa nos pedindo para nunca deixar de procurar.
Ponto forte: carisma do elenco.
Ponto fraco: excesso de melodrama em alguns diálogos.
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Ficha Técnica
Direção de Celso R. Garcia
Roteiro de Celso R. Garcia
Elenco principal com Damián Alcázar, Joaquín Cosío, Silverio Palacios, Gustavo Sánchez Parra, Américo Hollander e Fernando Becerril
Produção de Bertha Navarro, Guillermo del Toro e Alejandro Springall
Fotografia de Emiliano Villanueva
Montagem de Jorge García
Direção de arte de Ariel Margolis
Figurino de Gabriela Fernandez
Música de Dan Zlotnik
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Dica cultural, diretamente do México
Nossa dica cultural de hoje é o álbum Vivo, segundo disco ao vivo do romântico mexicano Luis Miguel, gravado em 17 de abril de 2000, durante show da turnê Amarte é un placer. Mesclando o pop latino e o mariachi ao bolero caliente, o projeto reúne todos os maiores sucessos do cantor, com destaque às quatro faixas medley, em que ele reinterpreta grandes clássicos de seus outros trabalhos.
Por hoje, é isso, companheiras e companheiros.
Até à próxima.
Carvalho de Mendonça